Novembro 26, 2024
Este foi o livro mais maduro da autora e reflete muito bem o seu crescimento. De alguma forma, sinto que bate certo com a minha teoria de que os seus livros refletem muito a sua situação mental e emocional.
De todos os livros que já li da autora, este não foi o melhor, mas também não é o pior. Não é um livro prazeroso à partida. Na verdade, tive alguma dificuldade em entrar na história e no seu ritmo, mas gradualmente foi ficando mais cativante e apelativa.
Conhecemos dois irmãos, Peter e Ivan, no momento da morte do pai e, ao longo do livro, vamos percebendo como fazem o luto e de como lidam com o mesmo, das suas perspetivas perante a vida e dos seus conflitos interiores. Eles têm uma relação atribulada, alimentada por mágoas acumuladas de infância, inveja e sentido de injustiça.
São os dois as metáforas perfeitas das profissões/hobbies que Sally Rooney lhes atribuiu: Ivan, o génio do xadrez, mostra sempre uma enorme preocupação em mover a peça certa da sua vida, ambiciona ganhar contra os problemas, tal como ambiciona nas habituais competições com 10 pessoas em simultâneo (ou ganha ou empata), quer ser sempre o bom rapaz, procura fazer xeque-mate ao seu irmão, o "rei" bonito e com imensas capacidades sociais. Já Peter, o advogado, adota uma perspetiva interessante sobre o sentido da justiça e da verdade e comprova como o que é verdade e justo para uns, não o é para outros. Tem uma postura de superior, como a lei assim permite, mas na verdade vê-se constantemente no limbo, a segurar a balança entre duas mulheres que ama.
Ao longo da história, vamos conhecendo melhor as relações amorosas destes irmãos, o que ajuda a decifrar mais sobre as suas personalidades e desejos. Peter, dividido entre Sylvia, o seu primeiro e grande amor, e Naomi, uma jovem de 22 anos com quem se envolve sexualmente e a quem está sempre a dar dinheiro. Já Ivan inicia uma relação com Margaret, uma mulher de 36 anos, divorciada.
No geral, senti que as relações com Peter eram demasiado frágeis e explosivas. Nunca cheguei bem a perceber a posição de Sylvia, nem os sentimentos por Naomi. Já do lado de Ivan, gostei muito de como a relação com Margaret evolui e achei-a a melhor personagem do livro. Muito madura e bem desenvolvida.
Gostei que a Sally Rooney começasse a explorar e a focar-se mais nas relações familiares, no entanto, achei que o livro não é arrebatador ou imprescindível. Apesar disso, tal como todos os livros da autora, faz-nos refletir sobre a nossa postura perante os outros e de como facilmente as coisas são mal interpretadas. Fez-me refletir sobre a importância da comunicação aberta e transparente, da confiança para com os outros e da necessidade de compreensão.
Um livro que prova como a empatia torna o mundo um lugar melhor.